# Anos 60 Gírias: Uma Viagem Linguística pela Década de Ouro do Brasil
## Resumo
A década de 1960 no Brasil foi marcada por profundas transformações culturais e sociais, e, como não poderia deixar de ser, a linguagem também refletiu essas mudanças. O período foi de efervescência política, com o golpe militar de 1964 e a subsequente Ditadura Militar, mas também de intensa atividade artística e musical, com o surgimento de movimentos como a Bossa Nova, a Tropicália e o Cinema Novo. Além disso, o Brasil vivenciou a \”era de ouro\” da televisão e da música popular, o que gerou um vasto vocabulário de gírias, muitas das quais se tornaram marcas de uma geração. Este artigo irá explorar as gírias dos anos 60 no Brasil, suas origens, significados e o impacto que tiveram na linguagem popular. As expressões que surgiram nesta época foram influenciadas por fatores como a música, o comportamento jovem e as tensões políticas, sendo ainda hoje lembradas por aqueles que viveram essa década e por quem estuda a história do Brasil.
## As Gírias dos Anos 60: Uma Mistura de Influências
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O Contexto Histórico e Cultural dos Anos 60
A década de 1960 no Brasil foi marcada por uma transformação intensa. A partir do golpe militar de 1964, a sociedade brasileira passou a viver sob uma ditadura que impôs censura e repressão, mas também gerou resistência por meio de movimentos culturais e artísticos. Esse período foi simultaneamente de grande efervescência cultural e de tensões políticas. Com a ascensão da juventude ao protagonismo social, especialmente com o movimento da contracultura, a linguagem jovem passou a ser uma forma de expressão, resistência e, muitas vezes, de subversão do sistema dominante.
A música popular também teve um papel fundamental na formação do vocabulário da época. Movimentos como a Bossa Nova, que começou no final dos anos 50, mas se consolidou na década seguinte, e a Tropicália, que mesclava a música brasileira com influências internacionais, ajudaram a popularizar uma série de gírias e expressões. O rock\’n\’roll, a Jovem Guarda e as manifestações da música protesto também contribuíram para esse cenário.
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A Influência da Música nas Gírias dos Anos 60
A música foi um dos maiores vetores da criação de gírias durante os anos 60. As canções de artistas como Roberto Carlos, Elis Regina, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes, entre outros, não apenas refletiam os sentimentos da época, mas também influenciavam a forma como os jovens se comunicavam. Muitas das gírias dos anos 60 eram diretamente inspiradas no universo musical.
Por exemplo, o termo \”bicho\” começou a ser usado por jovens para se referir uns aos outros, inspirado no contexto da música, como no famoso \”Bicho do Mato\”, um apelido para a juventude que se distanciava dos padrões tradicionais de comportamento. A palavra \”sossegar o facho\”, por sua vez, veio das músicas de protesto e do rock\’n\’roll, sendo utilizada para pedir calma ou diminuir a animação.
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A Juventude e a Linguagem Subversiva
Na década de 60, especialmente após o golpe militar de 1964, a juventude brasileira começou a se distanciar das normas estabelecidas pela sociedade conservadora. As gírias passaram a ser um instrumento de resistência e identidade, uma maneira de se diferenciar dos mais velhos e da autoridade. A palavra \”mandar a real\”, por exemplo, significava ser direto e honesto, uma postura que se opunha às normas tradicionais e à repressão.
Outra expressão popular na época foi \”fazer um som\”, que significava tocar música ou, em um sentido mais amplo, se envolver em atividades artísticas. Essa expressão, que remete ao mundo do rock, também era uma maneira de os jovens se afirmarem enquanto grupo. Nesse sentido, a linguagem das ruas tornou-se uma forma de protesto contra os valores impostos pela ditadura e pela sociedade.
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A Influência do Cinema e da Televisão nas Gírias
Os anos 60 também foram o auge da televisão brasileira, que começou a ter grande influência sobre a sociedade. Séries e novelas começaram a ser transmitidas, e programas de auditório, como os apresentados por Chacrinha, ajudaram a popularizar algumas gírias. A televisão, com seu poder de massificação, foi uma das responsáveis pela disseminação de algumas expressões, muitas delas oriundas do universo urbano.
O cinema, por sua vez, teve uma grande influência, especialmente o Cinema Novo, que não só revolucionou a estética cinematográfica como também introduziu gírias e expressões próprias da realidade brasileira. A expressão \”rolar a bola\”, por exemplo, foi um termo utilizado para indicar que algo estava acontecendo ou que o jogo estava começando. Essa expressão, de origem mais coloquial, refletia a linguagem das ruas, mas com um toque de humor e irreverência.
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Gírias Icônicas da Década de 60
Algumas gírias dos anos 60 permanecem até hoje no vocabulário brasileiro. Palavras como \”velho\” (para se referir a uma pessoa experiente ou uma pessoa amiga) e \”beleza\” (para dizer que algo está bom ou perfeito) são apenas alguns exemplos. A expressão \”quem tem boca vai a Roma\”, que se referia à ideia de que, com coragem e determinação, qualquer um pode conquistar o que deseja, também surgiu dessa época.
Outra expressão muito popular foi \”zoar\”, que significava fazer brincadeiras ou tirar sarro de alguém. Hoje em dia, \”zoar\” tem uma conotação muito mais ampla, mas a origem remonta à década de 60, quando essa gíria estava ligada ao espírito irreverente e jovial dos jovens da época.
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A Perda e a Reinvenção das Gírias
Com o passar das décadas, muitas dessas gírias perderam popularidade ou mudaram de significado. No entanto, a memória dessas expressões continua viva na cultura brasileira. A reinvenção da linguagem, especialmente nas décadas seguintes, fez com que novas gírias surgissem, mas sem perder o espírito criativo e rebelde dos anos 60. Isso mostra como a linguagem é dinâmica e reflete os valores e as necessidades de cada época.
As gírias dos anos 60 ainda são, em muitos casos, fonte de nostalgia e de reflexão sobre os tempos de mudança e inovação. Elas revelam muito sobre a forma como as pessoas se viam, se comunicavam e se posicionavam diante do mundo.
## Conclusão
As gírias dos anos 60 foram muito mais do que simples expressões da linguagem cotidiana; elas foram um reflexo das mudanças culturais e sociais que marcaram essa década crucial na história do Brasil. As influências da música, da juventude, do cinema e da televisão ajudaram a moldar um vocabulário que, até hoje, é lembrado com carinho por aqueles que viveram aquele período. Além disso, essas gírias continuam a ser um elemento de resistência e identidade, perpetuando a ideia de que a linguagem é, em muitos aspectos, um campo de batalha onde se disputam valores, visões de mundo e formas de expressão.
Hoje, essas gírias podem parecer um pouco antiquadas, mas o espírito de inovação e subversão que elas carregam ainda ecoa no vocabulário atual. As gírias dos anos 60 são um legado cultural que, além de enriquecer nossa língua, ajudam a contar a história de um Brasil em transformação.
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